terça-feira, 28 de abril de 2015

Ruínas II

Já não estamos na Galicia e esse passeio fizemos há pouco mais de um mês, mas acho que vale a pena mostrar um pouquinho sobre ele aqui.

Em outro fim de semana de tempo bom, pegamos o carro e viajamos cerca de uma hora em direção à cidade de Bande. Eu não sabia o que iríamos fazer, o Ignacio disse que era surpresa e que eu ia gostar do que veríamos. No caminho paramos em povoados de casinhas de pedras, típicos galegos, que pareciam parados no tempo. Mas não era isso o principal que iríamos ver, tínhamos que encontrar um lago por ali.

Depois de parar também para almoçar ao chegar na cidade, encontramos por fim o lago, que era muito bonito, mas eu ainda não sabia porque estávamos lá. Passeamos um pouco pela orla e começamos a encontrar umas pedras alinhadas no chão, como se fossem o desenho de uma casa. O Ignacio me perguntou o que eu achava que era e me explicou que estávamos onde foi um acampamento romano do século I, e que ali começavam as várias ruínas que havia ao redor do lago.

Para a minha família: Sue que gosta de azul.
Toda feliz encostada na "parede" do que foi parte do acampamento. Estaria na sala?

Sei que pra maioria vai parecer só um monte de pedra no chão, mas eu estava adorando passear por um lugar onde há quase dois mil anos moravam uns soldados romanos. Acho que o Brasil nem pensava em ser descoberto! O Ignacio também me explicou que bem recentemente encontraram mais ruínas por ali, foram escavando e descobriram o que acham ser a mansão de um dos generais. Achei o máximo, imagina só, depois de anos e toda tecnologia descobrir que ali há mais ruínas a serem descobertas. Deu vontade de pegar uma pá e sair cavando!

Procuramos esses novos achados e acabamos percebendo que estávamos no lugar errado - aquele monte de pedras que tínhamos visto era quase nada comparado com que íamos ver. Veja bem, assim que vimos o lago estacionamos e fomos seguindo a orla à direita. O que não sabíamos era que as ruínas que deram fama ao lugar na verdade estavam à esquerda, a alguns minutos dali. E eu que já estava toda feliz por ter visto aquele bando de pedras, fiquei alucinada, como dizem por aqui, quando vi o que me esperava.


Pelas fotos não dá pra ver bem o tamanho, mas as ruínas são enormes! Tanto que são conhecidas como "A Cidá", que significa cidade em galego. São 3 hectares de ruínas e, quando você chega, o primeiro que vê é a estrutura do que foi o quartel geral, logo alguns barracões da tropa e uma estrutura que acreditam ter sido um hospital. O mais legal é que dá pra entrar e ir passeando por elas, lendo as placas informativas do que era cada estrutura e cômodo e imaginando como seriam as coisas por ali há quase dois mil anos. 


Em uma das entradas do quartel geral
Um dos barracões
Sentada no poço de um dos barracões

Ignacio brincando com o forno, que ainda está inteiro
 
Entrada de um dos barracões


 E o passeio não parou por ali. Seguimos mais um pouco e chegamos a umas termas, que são piscinas de água quente natural deixadas ali por romanos. E havia um pessoal lá tomando um banho quentinho, apesar dos 14-16ºC que fazia do lado de fora! São várias piscinas e algumas banheiras, que na verdade parecem caixões (desculpem a imaginação fértil), utilizadas pelos romanos para tomar banho lado a lado com o amigo (ou amiga? Não sei como funcionava a coisa na época...). Fiquei morrendo de inveja e vontade de estar tomando um banho em piscinas termais de quase dois milênios... E ah, dizem que essas águas tem propriedades curativas.


Uma das piscinas e as banheiras

Não precisa nem falar que adorei o passeio e ainda tenho a intenção de voltar lá para tomar um bom banho na piscina termal dos romanos. E quem sabe não levo uma pá pra sair cavando? O acampamento Aquis Querquennis, nome dado às ruínas, fica em Baños de Bande, a cerca de 50 km ao sul de Ourense.


 
Pra finalizar, vista aérea e simulação de como era o acampamento. Via.



domingo, 19 de abril de 2015

Hasta luego, Verín

Sexta-feira nos despedimos de Verín, depois de 4 meses para mim e 6 para o Ignacio. Passamos por um inverno duro, alguns apertos no apê, um início de primavera que chegou de repente e trouxe muitos passeios legais pela Galícia. Estamos felizes com a mudança, mas vamos sentir saudade de ir várias vezes ao Alén, bar de uma brasileira ao lado de casa tomar uma taça de Crego tinto ou de Fragas blanco, comendo batatinhas e croquetas deliciosas; de comer o melhor hamburguer do mundo por 2 euros no Souto das Candeas, recheado com geleia de tomate e queijo de cabra, divino! E do pulpo a la gallega da Casa do Pulpo, melhor polvo que já provei! Também vou sentir falta de escutar o galego, de passear por ruínas, vilarejos de casinhas de pedra de sabe quantos séculos, de entrar em tabernas com lareira, de ver torres medievais e lagos que parecem cenário de filme.

E claro, do castelo de Monterrei, um dos mais lindos que já vi...

Castelo de Monterrei ao fundo
Verín ao fundo, vista do castelo




Cachoeira que descobrimos em um passeio a pé seguindo o rio Tamega na cidade
Paisagem bucólica que me encantou no primeiro dia em Verín - ovelhas pastando nas muralhas do castelo


Onde passamos a última tarde, despedindo do castelo

Bom, e como se diz por aqui, hasta luego, Verín! Ya nos veremos pronto... 



Obs: Crego & Monaguillo e Fragas são marcas de vinho da denominação Monterrei, produzidos na região que eu morava. Uma delícia! E pronto, em espanhol, significa "em breve".

Muchos besos y hasta pronto,

Sarah

terça-feira, 14 de abril de 2015

Bebidas para provar na Espanha

Tempo bom na Espanha é sinônimo de aproveitar para tomar umas cañas ou um tinto de verano em alguma terraza por aqui. E como estamos nesse clima esses últimos dias, pensei em listar algumas bebidas que eu adoro e sugiro a quem vier na Espanha provar.

E ah, voltando à primeira frase, caña = chopp, terraza são as mesas que os bares e restaurantes colocam ao ar livre (muitas vezes no passeio) e tinto de verano eu já explico aqui embaixo:

1. Tinto de verano


Provei essa bebida por acaso na minha primeira semana na Espanha, vi um pessoal no bar pedindo uma jarra que parecia uma mistura de chopp com vinho e resolvi provar. Uma delícia e super refrescante! Desconfio que seja a bebida que os espanhóis mais bebem no verão, como o próprio nome diz... O tinto de verano na verdade é uma mistura de vinho tinto com água gasosa espanhola, que é mais adocicada, quase um H2OH. Combina com um dia de calor e umas batatinhas. Sugiro pedir uma jarra em algum 100 Montaditos, como na minha foto abaixo.

Tinto de verano


2. Calimocho


Seguindo a linha de misturar vinho com alguma coisa, aparece o calimocho (pronuncia-se calimotcho), a bebida mais popular entre os universitários. O calimocho nada mais é que vinho tinto com coca-cola e também é uma delícia! Minha mãe acha pecado misturar vinho com qualquer coisa, mas o vinho aqui é muito barato - os calimochos são feitos com vinhos de mais ou menos 1€, que não são tão ruins como os mais baratos do Brasil. Tentamos fazer calimocho no Brasil com um sangue de boi da vida de R$6, mas a verdade é que fica bem ruim. Só conseguimos adaptar a bebida com um vinho de R$16, mas aí acho que já não vale a pena... então se estiverem por aqui, podem ir ao supermercado ou alguma vendinha, comprar vinho barato e coca cola e fazer a mistura que costuma ser metade de cada. É uma boa bebida para um esquenta antes de sair à noite!


3. Sangría


Talvez seja uma das bebidas espanholas mais famosas aí no Brasil, mas confesso que não costumo tomar muito aqui, apesar de ser uma delícia. A sangria é uma mistura de vinho tinto, licor de frutas (normalmente de pêssego), algum refrigerante também de frutas e pedacinhos frutas de verdade: pêssego, lima, laranja, maçã, cada pessoa faz de um jeito diferente. É docinha, também muito refrescante e costuma ser servida em formato de poncho ou em jarras grandes. Não deixem de provar!

A primeira sangría que tomei na Espanha, feita em casa por um amigo espanhol

4. Vinhos


Claro que não podiam faltar! A Espanha é um forte (e orgulhoso) produtor de vinhos e a bebida é bem barata por aqui. Ir a um bar e pedir uma taça costuma custar entre 1,50 - 2,50 e pedir uma garrafa em um restaurante normal, entre 5-10. Então vale à pena! Não sou nenhuma expert em vinhos, mas sugiro pedirem uma taça de um Rueda, se gostam de vinho branco, ou de Rioja se preferem o tinto. Ou peçam os dois para provar! ;)


5. Sidra Asturiana


A sidra asturiana é muito diferente da sidra que tomamos no Brasil, confesso que não sou muito fã, mas vale à pena provar. É feita com maçã, bem forte, pouco doce e a maneira que é servida é um espetáculo em si (foto abaixo), já que precisa da força mecânica do impacto da sidra no copo pra romper as partículas de maçã. De acordo com os espanhóis, se não é servida assim, do alto, não fica boa. Muitos bares servem a sidra em uma máquina que faz esse papel e ela também é muito barata - uma garrafa custa uns 2-3

Sidra asturiana. Foto: enjoyasturias


6. Mosto


Para quem não bebe nada alcóolico, sugiro pedir um mosto, que é um suco de uva diferente ao que tomamos no Brasil, utilizado nas etapas iniciais da produção de vinho. Nos bares normalmente servem mosto de uva branca, que tem uma cor dourada, e é o que mais gosto. É bem docinho, combina bem com uns calamares (lula empanada) e costuma ser uma pedida bem baratinha.

Mosto


Ah, acho importante dizer também que uma taça de vinho, uma caña, uma sidra, ou um mosto costumam sair beeeem mais baratos (até metade do preço) que uma coca-cola, por exemplo. Fica então a dica e o incentivo a provar alguma coisa!

Besos com sede,

Sarah

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Semana Santa na Espanha

Confesso que não sei muito sobre as tradições da semana santa (não sou católica), mas aprendi um pouco sobre como são aqui na Espanha. A principal - e sobre qual vou falar nesse post - são as procissões, que acontecem por todo país.

Vi algumas procissões ao vivo na semana santa de 2013 em León, quando morava por lá. Esse ano o feriadão foi mais pra descansar, vimos um pouquinho pela TV e deu pra ter uma ideia de como são no resto do país.

KKK ou semana santa? Foto: dr_zoidberg

O primeiro que chama atenção nas procissões é o figurino. E o primeiro que passou na cabeça de todos os meus amigos brasileiros que viram alguma procissão aqui - e provavelmente na sua também ao ver a imagem acima - foi "peraí, mas isso não é a Ku Klux Kan?". Pois é. Saem grupos mascarados com aqueles capuzes pontudos e dá um pouco de medo... quando não estão com o chapéu pontudo, o capuz é estilo carrasco que vai cortar sua cabeça com um machado, o que não ameniza muito. Na verdade esses trajes são dos penitenciadores, que estão envergonhados pedindo perdão pela morte de Cristo. Buscamos relação da Ku Klux Kan com as procissões, porque certamente elas são mais antigas que o grupo extremista, e parece que não há nenhuma direta. Pelo que vimos na internet, a KKK começou usar esse traje porque contavam histórias de medo e esse capuz com ponta cumpre o propósito. Não conseguimos descobrir se foram inspirados na procissões espanholas ou não...

Carrascos ou semana santa? Foto: taringa

Outro grupo de destaque nas procissões são as manolas, mulheres que vão todas de preto, com aquele arco na cabeça típico espanhol, em luto pela morte de Cristo. Vai também uma banda tocando marchas fúnebres e, o mais importante, as imagens de cada confraria. São imagens enormes e impressionantes, que vão carregadas pelos devotos nos ombros e na cabeça. Conversei com um cara na semana passada que estava contando as horas para a semana santa, porque tinha passado 12 anos na fila de espera para ser um dos costaleros, que são aqueles que carregam as imagens enormes. 12 anos! Para os espanhóis devotos, acho que ser costalero é uma das maiores honras que poderiam ter e significa poder redimir seus pecados. É literalmente um fardo que chega a deixar marca no crânio de quem leva a imagem na cabeça...


Manolas. Foto: El Diario de León
Costaleros. Fotos: mirayvuela

Religiosidades à parte, aproveito também pra contar de uma profissão digamos que profana que vi também em León em 2013. Ela é bem famosa e atrai muita gente todo ano, principalmente universitários. É a procissão de "San Genarín", considerado pelos leoneses o padroeiro dos bêbados.

Genarín foi uma figura muito famosa em León nos anos 20, conhecido pela sua notória paixão pela boa vida, bebida, mulheres, bordéis e mais bebida. De acordo com a história que me contaram (e que consta no Wikipedia), Genarín morreu atropelado em 1929 pelo primeiro caminhão de lixo de León, enquanto fazia suas necessidades em uma caçamba de lixo. Para homenageá-lo, seus amigos decidiram se juntar na Plaza del Grano na cidade e beber e recitar poesias em sua homenagem. Com o tempo mais gente foi se juntando a eles até chegar no nível de uma procissão, que obviamente foi proibida na época da ditadura, voltando à ativa no final dos anos 70 com a democracia.

San Genarín. Foto: ileon
Procissão de San Genarín. Foto: leonocio

Vi na Wikipedia que ao Santo Genarín também são atribuídos 4 milagres (incrível isso haha): a redenção da prostituta que encontrou ele morto; um gol do time de León que não é lá grandes coisas; a "cura" de um doente renal que, ao mijar na mesma caçamba que Genarín, excretou a pedra que tinha nos rins; e a queda do ladrão que todos os anos roubava as oferendas ao "Santo", que acabou quebrando o quadril. Ri muito de todos.

Essa procissão eu vi ao vivo e é muito engraçada. É uma procissão com tudo que tem direito - devotos segurando velas, outros carregando imagens enormes e uma banda que toca músicas mais animadas que as tradicionais da semana santa. E, de acordo com a tradição, todo mundo bebendo em homenagem ao santo. Profano, mas hilário!

Seja qual significado a semana santa tenha pra vocês, espero que tenham tido uns bons dias de feriado e uma boa páscoa!

Muchos besos,

Sarah